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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Brasil: Que País é esse?

por Roberta Traspadini, no site do Brasil de Fato:


“nas favelas, no senado/Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?” (Renato Russo)

12/05/2011
Roberta Trapadini

O IBGE acaba de lançar seu relatório parcial sobre as características da sociedade brasileira em 2010.

Estes dados nos mostrarão se a lógica de modernização via progresso tecnológico como sinônimo de desenvolvimento proporcionou à uma parte expressiva da população brasileira, um modelo de desenvolvimento com qualidade de vida garantida, conforme o artigo 5º. da constituição que “valida” os direitos sociais do povo brasileiro.

A partir do que vivemos hoje, podemos fazer um recorrido histórico sobre os principais projetos realizados no Brasil:
- a começar pelo nacional desenvolvimentismo de Vargas dos anos 30-45; reforçado no seu retorno ao poder nos anos 50; passando pelo plano de metas de Kubitschek (56-60); se solidificando no regime militar (64-84), com a induzida renúncia de João Goulart; culminando na gestão neoliberal de FHC (95-2002) e, vive consequências (in)diretas na política “neo desenvolvimentista” no período Lula (2003-2011).

1. A população brasileira e sua composição
Segundo o IBGE, a população brasileira em 2010 é de 190.732.694. Deste total, 42,1% estão no sudeste, 27,8% no nordeste, 14,4% no sul, 8,3% no norte e 7,4% no centro-oeste.
Vale destacar que de 2000 a 2010, as populações do sudeste, nordeste e sul caíram em sua participação no total nacional, enquanto as regiões norte e centro-oeste tiveram um incremento.
Isto nos dá base para refletir tanto sobre o desigual processo de desenvolvimento capitalista industrial brasileiro, centrado nas regiões sudeste e sul, quanto do permanente fluxo migratório brasileiro em que boa parte de nossos trabalhadores, sai de seus territórios em busca de melhores condições de vida.

Segundo um estudo do IPEA, de 2003 a 2008 mais ou menos 3 milhões de brasileiros deixaram seu estado de origem. Estes migrantes são, em sua maioria, jovens entre 18 e 29 anos.

As maiores ondas de migração são do nordeste para o sudeste e dentro do sudeste. O perfil dos migrantes é distinto. Enquanto apenas 6,1% dos migrantes nordestinos apresentam 12 anos ou mais de escolaridade, entre os migrantes dentro da região sudeste este número vai para 23%.

Isto evidenciará uma defasagem salarial e uma tendência à informalidade maior no caso dos migrantes do nordeste para o sudeste, em comparação à maior inserção salarial formal de parte dos migrantes dentro do sudeste.

2. População por sexo, idade e taxa de fecundidade
No Brasil, enquanto as mulheres representam 51,1% da população (97.342.162), os homens somam 48,9% (93.390.532).

Isto significa dizer que existem 3,9 milhões a mais de mulheres no Brasil em relação aos homens. Isto fará uma diferença significativa na realidade brasileira, tanto no mercado de trabalho, quanto no perfil da nova família.

Enquanto as mulheres receberão menores salários, mesmo com mais tempo de escolaridade e a continuidade nas tarefas “ditas femininas”, os homens encontrarão uma situação contrária: melhores salários, menos tempo na escola, grande poder patriarcal.

Ao mesmo tempo, homens e mulheres têm reduzido o número de integrantes familiares. Sim, homens e mulheres!

A questão da fecundidade passa por uma reflexão profunda sobre a correta decisão da mulher de ter, ou não, um filho.

Passa pelo debate histórico sobre a conformação de um princípio de família e de feminino-masculino que instituiu no imaginário coletivo uma forma de ser que ora entra em xeque no Brasil e no mundo.

Nos anos 50´s, a taxa de fecundidade média era de 3,0% ao ano. Em 2010, esta taxa é de 1.17%. Se antes nossas famílias eram majoritariamente compostas por 6-7 integrantes, agora é possui dois, no máximo 3. Isto é fácil de ser visualizado no nosso cotidiano familiar pelo número de irmãos dos nossos avós, dos nossos pais, até chegar no nosso número de irmãos e em nossos filhos.

O reflexo disto é a diminuição do número de crianças até 4 anos, em contraposição ao aumento de pessoas com 65 para cima. Nos anos 90, o número de crianças de 0 a 4 anos era de 11,2% do total e a população com 65 anos ou mais, era de 4,8%. Em 2010 o grupo até quatro anos corresponde a 7,3%, enquanto o de 65 anos ou mais, 7,4%.

Aqui cabem dois debates centrais. 1º.: a nova composição das famílias brasileiras, com cada vez menor número de integrantes, 2º.: a mudança da pirâmide etária do Brasil, que nos próximos anos indicará um maior número de adultos e idosos, frente ao número de crianças e jovens.

O envelhecimento da população brasileira, somado à concentração da população nos perímetros urbanos e à precarização real das condições de vida da classe trabalhadora, relatam a quem este modelo de desenvolvimento capitalista favoreceu.

Um modelo centrado no avanço das forças produtivas, com supremacia para a técnica e com a progressiva retirada do Estado como regulador e promotor do bem estar social, expressa no século XXI as particularidades históricas desta aposta: um desenvolvimento desigual e combinado em que a classe que vive do trabalho, sobrevive em condições cada vez mais bárbaras de relações sociais e de produção própria de vida.

Nos próximos textos trabalharemos as questões: campo-cidade, salários e poder de compra real; desigualdades geracionais-raciais-gênero; e, por fim, o crédito e o endividamento familiar no Brasil.

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